Coluna

Espetáculo teatral baiano aborda deficiência a partir de texto clássico de Shakespeare

Neste mês, chega ao circuito artístico o espetáculo virtual Solo. Adaptada da obra teatral Ricardo III, de William Shakespeare, a peça tem o objetivo principal de discutir identidade e poder, passando por questões voltadas para as pessoas com deficiência. Explorando os conflitos internos da personagem central, o projeto busca trazer uma abordagem contemporânea para o texto de Shakespeare, lançando novos olhares sobre a montagem de clássicos do teatro. A exibição acontece em formato remoto, através da plataforma Youtube, de sexta a domingo, entre os dias 15 e 24 de abril, às 20h, na modalidade pague quanto puder.

A diretora Walerie Gondim conta que a ideia inicial era juntar algumas obras de Shakespeare e adaptá-las. No entanto, quando a equipe se deparou com Ricardo III e começou a discuti-lo, foi convocada a algo diferente, principalmente quando notaram que o intuito de juntar um texto clássico com a presença de um corpo deficiente em cena seria alcançado com outra profundidade nesta obra.

É a partir desta percepção que o grupo ainda constatou que Ricardo III, um dos maiores vilões da obra shakespeariana, é o único protagonista com deficiência do autor. Esta característica acabou sendo algo relevante e mereceu destaque maior, fazendo com que a seleção do texto fosse confirmada. “Hoje a peça tem textos de Shakespeare e textos meus e a gente coloca Ricardo numa espécie de divã, como se ele estivesse se questionando sobre ele próprio, sobre sua identidade”.

Além disso, Solo, monólogo de 25 minutos que tem no elenco Dudu Oliveira, conta com um tratamento específico, totalmente pensado para a linguagem de teatro-web. Os enquadramentos, a montagem e a encenação estão operando em serviço da composição do ator, bem como em suas movimentações e perspectivas. A busca da direção e do elenco é colocar o espectador imerso nesta atmosfera e em todo o universo do Ricardo proposto pelo trabalho.

Para realizar tal intento, Dudu conta que todo o processo de criação do espetáculo foi preenchido de cuidado e pesquisa. O intérprete acredita que a mescla em comunicar mensagens fundamentais para a sociedade sem ser expositivo, é o traço mais marcante da composição desta obra. Como artista e pessoa com deficiência, ele enxerga uma relevância forte da sua presença no palco, atuando em uma peça tão renomada de Shakespeare. “Solo é uma contracultura viva. Para mim, é muito importante ser a boca e a expressão que dá corpo a esse grito, para que eu e outros como eu vejamos onde podemos, queremos e precisamos estar”.

Completando o ciclo de atividades do projeto, também serão ofertadas três rodas de conversa, que contarão com artistas e profissionais como Estela Lapponi, Edu O. e Ednilson Sacramento. Os temas das conversas são: O Trabalho de Artistas Com Deficiência Nas Diferentes Linguagens; Acessibilização de Espaços e Conteúdos Culturais e A Representação de Corpos com Deficiência no Teatro e no Cinema. Todos os bate-papos contam com acesso gratuito e serão apresentados no Instagram @solo.espetaculo.

Solo conta com acessibilidade para toda a plateia, disponibilizando audiodescrição, tradução em LIBRAS e legenda descritiva. Já as rodadas de conversa possuem tradução em LIBRAS. Esse projeto foi contemplado pelo Prêmio Riachão – Projetos de Pequeno Porte, da Fundação Gregório de Mattos, Prefeitura Municipal de Salvador, por meio da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, destinado pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal

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