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Do Brasil para a Europa: escritora paulistana conta como foi publicar livro na Itália

A tradutora e escritora paulistana Sandra Bianconi transformou a paixão pela literatura no romance Young Adult A menina que sonhava com livros – também publicado em italiano “La ragazza che sognava i libri”. A obra conta a história da jornalista Maria Jacqueline que, assim como Bianconi, fez do amor pelos livros uma profissão: curadora de manuscritos originais na editora Só Letras.

Além de retratar os desafios enfrentados no mercado editorial, o livro também exalta a importância da leitura e o poder que ela tem de transformar a vida de inúmeras formas. “Jacqueline é, por si só, uma importante mensagem: ler é cultura, é independência, é divertido e, claro, é um hábito fácil de se cultivar.  Hoje em dia somos bombardeados por estímulos que nos afastam dos livros, por exemplo, celular e medias sociais. Mas, o que fazemos quando estamos com um celular na mão? Nós lemos! Então, por que não abrir um livro, que vai te proporcionar as mesmas emoções, ou mais até, que você tem nesses canais?”, revela a autora.

Formada em Letras, Sandra Bianconi teve sua primeira obra “La scelta – Santiago nel Cammino”, uma autobiografia publicada em português e italiano, finalista em dois concursos literários internacionais na Itália: Prêmio Città di Como em 2018 e Prêmio Samnium de 2021. A tradução deste livro para o português “A escolha – Santiago no Caminho”, permaneceu na lista dos 29/100 mais vendidos na lista de best-sellers na Amazon.

Confira a entrevista inédita com a autora e saiba mais sobre novo romance e como se deu trajetória de Sandra no mercado literário brasileiro e italiano:

A menina que sonhava com livros” apresenta uma protagonista apaixonada por literatura.  De onde surgiu a inspiração? A obra tem um tom autobiográfico?

S.B: A protagonista, Maria Jacqueline, é uma garota que adora livros, ler obviamente, e centraliza toda a sua vida nesta sua paixão! Ela mostra, por meio dos fatos profissionais e pessoais que lhe ocorrem, que ler não é assim tão chato como muitos ainda pensam, mas sim, divertido. Muitas das suas experiências iniciais são realmente hilárias, por exemplo, quando o narrador nos conta o que aconteceu quando ela foi para Londres – estudar e viajar, as suas duas grandes paixões. Com certeza essa história tem um tom autobiográfico, pois, eu também adoro ler! Digamos que eu transmiti essa paixão para a Jacqueline.

Você foi finalista de dois prêmios internacionais de literatura com a obra “A escolha – Santiago no Caminho”, com a edição italiana. Quais foram essas premiações e como foi a experiência?

S.B: “A escolha” foi o meu primeiro livro e, na verdade, é uma longa conversa de quase 200 páginas com o meu leitor – é como se eu estivesse conversando com eles e lhes dissesse: “vamos tomar um cafezinho que eu quero te contar uma história.

A mensagem da obra é importante, pois, é baseada em fatos reais, e eu não queria que fosse uma estória “pesada” porque não é! E penso que isso valorizou muito a narrativa. Fiquei bastante satisfeita não só com o resultado, mas principalmente porque o livro foi reconhecido em dois concursos internacionais de literatura, já que escrevi tudo e traduzi para o italiano sozinha, sem ajuda profissional alguma.

Como funciona o processo de tradução das suas obras para o italiano? Você pensa em publicá-los também em outro idioma?

S.B: O processo de tradução é simples e bem complexo ao mesmo tempo – simples, porque moro na Itália há muitos anos, então digamos que sou já uma “nativa”, e complexo por a tradução ser sempre complexa. Expressar o mesmo sentimento/pensamento em outro idioma, encontrando as palavras exatas que indicam exatamente aquilo que você quer dizer, te garanto que nem sempre é uma tarefa fácil. Mas faço isso por profissão – sou tradutora de textos e editorial – então o meu trabalho facilita a técnica de traduzir os meus próprios, porque eu sei o que quero dizer, o que não aconteceria, por exemplo, se outra pessoa o fizesse por mim. Talvez um outro tradutor poderia interpretar de modo diferente as minhas emoções e isto não acontece, no meu caso. Posso afirmar que a tradução, neste caso, é bem fiel ao original, coisa que nem sempre é assim!

Eu gostaria muito de publicar o meu primeiro livro “A escolha – Santiago no Caminho” em espanhol quase como uma forma de agradecimento e gratidão ao povo da Espanha, que me ajudou tanto a fazer o Caminho de Santiago sem que disso tivessem consciência. Mas por enquanto isso é apenas uma ideia que sempre tive no meu coração, mas que ainda não se realizou.

Você tem leitores tanto no Brasil quanto na Itália. Como é a recepção deles com as suas obras?

S.B: É incrível como nós notamos a diferença dos leitores nos dois países – o leitor brasileiro é um pouquinho mais “versátil”, na minha opinião, e o leitor italiano é mais tradicional e fiel. Pelo menos essa é a experiência que eu tenho em relação à recepção das minhas obras nesses dois países.

Quais são os desafios de ser escritora no Brasil e na Itália?

S.B: Os desafios são imensos, e não falo em termos dos países, é uma dificuldade comum. Hoje em dia muitas pessoas, principalmente os já famosos, escrevem livros e isso deixa o mercado inflacionado e tremendamente competitivo, mas a competição fica muito injusta porque o livro da Sandra Bianconi pode até ser uma história bem bacana, mas se está ao lado do livro de um cara famosíssimo na mesma prateleira, talvez o leitor prefira comprar a obra dele/dela ao invés de experimentar novas leituras. Não temos à disposição as mesmas armas, e, por isso, escrever e publicar livros como escritora independente ou iniciante é sempre um obstáculo a ser enfrentado. Esse é o maior desafio que todos os escritores encontram, e no mundo fftodo, com certeza.

Quando você decidiu seguir carreira de escritora e tradutora literária? Desde quando esse nutre o amor pelos livros?

S.B: Sempre sonhei em escrever um livro, pois escrevia muito desde a adolescência. Na época eu lia e escrevia muitos contos. Aliás, posso afirmar que foram eles que fizeram com que eu me apaixonasse de verdade pela leitura e escrita. Dez anos antes do meu primeiro lançamento, tinha 60 páginas no Word, sem título, a ideia não brotava. Mas, quando me vi em Santiago da Compostela, essa ideia surgiu com uma força incrível. Quando voltei para a Itália, onde moro atualmente, retomei aquelas páginas, o embrião do que viria ser “A escolha – Santiago no Caminho” e mergulhei de cabeça nessa aventura até que ele virasse o livro que eu tanto tinha sonhado.

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