Coluna

Técnica de enfermagem do Hospital Irmã Dulce é destaque em livro nacional

Até os 29 anos, a soteropolitana Valquísia Juciana de Oliveira nunca tinha pensado em trabalhar, muito menos em entrar para a área de enfermagem. Era uma dona de casa que teve seu único filho, Mateus, hoje com 24 anos, a quem se dedicou exclusivamente nos primeiros cinco anos de maternidade. O que mudou o rumo da sua vida foi um triste episódio: o nascimento de seu sobrinho, João Paulo, com síndrome de Edwards, uma rara doença genética que causa alterações físicas e mentais em fetos e bebês recém-nascidos. O acontecimento abalou a família e foi marcante para Valquísia, que o visitou internado várias vezes no Irmã Dulce, antes de falecer com apenas 1 ano, 1 mês e 1 dia de vida.

Foi assim que Valquísia conheceu a instituição. Com a morte do sobrinho, ela tomou a decisão de estudar para técnica de enfermagem e, antes de se formar, enviou seu currículo para as Obras Sociais Irmã Dulce, onde teve a alegria de ser admitida há 13 anos. Com a pandemia, foi realocada da área de agudos e crônicos para a pediatria, o que a princípio lhe causou receio devido às lembranças do sobrinho. É preciso apenas alguns minutos de conversa com Valquísia para descobrir que a emoção é o que a move. Essa emoção à flor da pele poderia ser um problema para quem trabalha em um ambiente no qual situações dramáticas fazem parte do dia a dia, mas para Valquísia, isso faz parte do ofício:

“Só fica aqui quem se envolve de verdade. No curso de enfermagem a teoria faz tudo parecer uma casinha de bonecas, mas na prática é totalmente diferente. Por mais que no curso fale que não é para se envolver com história de paciente, é o que mais acontece quando a gente abraça essas pessoas. Mas há também episódios alegres, quando os pacientes se recuperam e saem sorridentes pela porta do hospital. Aqui a gente trabalha porque realmente ama a profissão. E a instituição faz com que a gente seja assim. A essência de Irmã Dulce é amar e servir”, realça ela

Histórias de todo o Brasil – O relato de Valquísia é dos 20 registrados no livro Retratos do Cuidar – Histórias da Enfermagem no Brasil, que abre espaço para acompanhar a trajetória do cuidar pelas mãos desses profissionais da saúde, além de trazer um panorama da história da enfermagem no país. Editado nos idiomas português e inglês (bilíngue), o livro já está disponível na versão digital e cópias da obra serão doadas para instituições de saúde. A versão gratuita do livro pode ser acessada no site:  https://projetos.cecbrasil.com.br/livro-retratos-do-cuidar

Realizado pela CEC Brasil em parceria com o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), via Lei de Incentivo à Cultura, do Ministério da Cultura, com patrocínio da Johnson & Johnson, Retratos do Cuidar apresenta dezenas de histórias de profissionais de enfermagem que cuidam da saúde da população em todo o país, seja em pequenas clínicas no interior do país ou em movimentados setores de emergência das grandes capitais; em delicadas alas de atendimento infantil alimentadas pela esperança e em alas geriátricas sustentadas pela resiliência; em hangares de helicópteros e em salas de alta tecnologia.

Através de relatos e fotos, a obra reúne histórias que transbordam responsabilidade, afeto e o cuidar, humanizando assim as relações dentro da área da saúde. “O livro foi realizado em parceria com o COFEN, que junto com outras instituições nos indicou os profissionais que estão no livro. A partir daí, iniciamos uma jornada para conhecer essas pessoas e contar suas histórias de forma respeitosa, junto com um panorama da história da enfermagem no Brasil. O livro foi planejado para que o leitor possa se conectar e criar familiaridade com todos os relatos e com essas homenagens aos profissionais”, explica Priscila Oliveira, Coordenadora do Selo Futuro, que assina a realização junto com a CEC Brasil.

Em 2022, a CEC Brasil lançou o livro Caminhos da Saúde, que conta a história de 30 agentes comunitários de saúde. “Retratos do Cuidar faz parte de uma coletânea também referente à saúde, destacando o papel fundamental que os enfermeiros do nosso país enfrentam diariamente. A construção e realização desse novo projeto foi gratificante e extremamente enriquecedora, e seguimos com a missão de contar histórias e disseminar os heróis da vida real. Através do olhar de cada paciente, vemos o profissionalismo e respeito pela vida refletir nos cuidados que cada profissional dedica à arte de cuidar do próximo, regido por profissionalismo e respeito pela vida”, declara Kaline Vânia, Diretora da CEC Brasil.

Criar vínculos faz parte do ofício – Para o jornalista Jeferson Souza, que teve a missão de escrever essas histórias, a intenção é mostrar algo que tivesse representação no país todo e não ficasse centrado apenas em uma região. “Nós fomos desde o Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, até um posto de saúde de uma vila chamada Três Unidos, de uma comunidade indígena, no Rio Negro. Passamos pelo interior da Paraíba, por cidades como Salvador, Recife e Brasília. A gente fez um recorte de profissionais de todo o país e de todos os perfis, de auxiliares até enfermeiros, que resultaram em histórias humanas muito interessantes ao longo do livro”, completa o autor.

Ao todo, são 200 páginas, entre textos e imagens, que contam histórias de amor incondicional, como a da enfermeira Michele Piloni, do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, que acabou adotando um garoto com leucemia, ainda bebê, seu então paciente oriundo de um lar de adoção, hoje curado e com 18 anos. Histórias de superação, como a de Julia Guedes, que tirava seu sustento como catadora de materiais recicláveis em um lixão junto com o marido e as duas filhas, mas que com muita raça conseguiu se formar como técnica de enfermagem. Hoje, ela atua no Hospital Regional de Pombal Senador Rui Carneiro, no interior da Paraíba, e continua estudando como bolsista do curso de Enfermagem na Unifip Centro Universitário.

Tem também a história de orgulho dos irmãos Neurilene Cruz e Divino Cruz, do povo Kambeba da Comunidade Indígena Três Unidos, a 60 quilômetros de Manaus, no estado do Amazonas. Diante da deficiência no atendimento, ambos decidiram ir para Manaus estudar para Técnico de Enfermagem, mas recusaram os convites para trabalhar nos lugares onde estagiaram. Escolheram voltar para ajudar o seu povo e hoje trabalham como residentes no Polo Base Nossa Senhora da Saúde, na comunidade, juntando ciência e conhecimento ancestral.

Desafio de registrar o amor ao próximo – Para Roberto Setton, responsável pelas fotos e edição fotográfica da obra, “foram situações muito diferentes que exigiram muita flexibilidade, tanto minha quanto do Jeferson, e que renderam imagens e retratos que a gente tentou pegar a essência de cada pessoa. Fomos muito bem recebidos sempre, contamos com a entrega e confiança dessas pessoas para que a gente pudesse fazer nosso trabalho do melhor jeito possível. Espero que a gente tenha conseguido registrar esse valor, essa raça, essa garra e o próprio amor ao próximo que essas pessoas têm”, declara o fotógrafo.

De acordo com a presidente do COFEN, Dra. Betânia Santos, Retratos do Cuidar simboliza a reverência ao trabalho de enfermeiros, técnicos, auxiliares e obstetrizes, responsáveis por moldar positivamente o cenário da saúde no Brasil. “O Conselho Federal de Enfermagem se orgulha de contribuir com a construção da obra e compreende que dar visibilidade às trajetórias dos nossos profissionais é uma forma poderosa de proporcionar inspiração e aprendizado para toda a sociedade”, pontua a gestora.

A elaboração do livro contou com o fundamental apoio da Johnson & Johnson. “Nós, da Johnson & Johnson, acreditamos que o registro das histórias contadas em Retratos do Cuidar pode ajudar a manter viva a identidade da enfermagem, valorizar o papel dos enfermeiros e o legado que entregam para a sociedade”. No Brasil, a empresa já ajudou a capacitar mais de 10 mil profissionais de enfermagem e a formar mais de 2 mil técnicos de enfermagem, entre outras ações.

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