Coluna

Russo Passapusso interpreta canção inédita de Moa do Katendê

Foi em 29 de outubro de 1954 que nasceu Romualdo Rosário da Costa, conhecido internacionalmente como Mestre Moa do Katendê. Cantor, compositor, dançarino, artesão de instrumentos, mestre de Capoeira Angola e arte-educador, o multifacetado artista perdeu a vida prematuramente em 2018, vítima da violência política que se instaurou no Brasil às vésperas das eleições presidenciais. Agora, em 29 de outubro de 2022, quando ele completaria 68 anos, em mais uma véspera eleitoral, será lançado um segundo single do álbum “Moa Vive!”, que reúne nove composições inéditas deste que foi um dos fundadores do Afoxé Badauê e um dos grandes responsáveis pela reafricanização do carnaval de Salvador. A canção “Nação africana”, interpretada por Russo Passapusso, virá como um presente e estará nas plataformas de streaming na data do aniversário.

Contemplada pelo Rumos Itaú Cultural 2019-2020, a produção do disco resulta de um registro sonoro que Moa fez de suas músicas, em 2011, no estúdio do amigo Átila Santana, que então assume a coordenação deste projeto e a sua produção musical. Da gravação intimista entre amigos, as faixas ganham novas roupagens nas vozes de artistas da Bahia que se afiliam profundamente à obra do homenageado.

“Em que pese a importância dos trabalhos de Moa, são poucas as gravações de suas composições. Não havia, até o momento da proposição deste projeto ao Rumos Itaú Cultural, o registro de um álbum dedicado a suas canções. Com o seu assassinato, perdemos a oportunidade de oferecer o devido reconhecimento à sua obra musical com o Mestre ainda presente entre nós”, contextualiza Átila. “Importante destacar que, quatro anos depois, a data de seu nascimento coincide com a véspera do segundo turno das eleições presidenciais no Brasil, marcadas pelo agravamento da mesma violência política que o vitimou. Por isso, o lançamento de ‘Nação Africana’ nos convoca à exaltação da memória e justiça por meio da arte, neste momento”, completa.

“Nação africana” é uma parceria de Moa com o compositor Waldomiro, também integrante do Badauê. Ela estabelece uma ponte direta entre o ijexá da Bahia e o afrobeat nigeriano – ritmo marcado por profunda implicação política libertária. Com naipe de sopros afiado e uma interpretação inspirada de Russo Passapusso, a faixa ganhou um ar de modernidade e inovação, com os pés fincados na ancestralidade, atributos pelos quais Moa ficou conhecido.

Um primeiro single do disco, “Presente de Oxum”, cantado por Gerônimo Santana, foi lançado no último dia 21 de outubro. O álbum completo, que inclui duas músicas das gravações originais com a voz do próprio Moa, também tem a participação de Margareth Menezes, Roberto Mendes, Mateus Aleluia Filho, Márcia Short, Aloísio Menezes e Sued Nunes, com previsão de lançamento para o dia 11 de novembro.

 

SOBRE MOA DO KATENDÊ – Referência da cultura afro-brasileira, o soteropolitano Romualdo Rosário da Costa, ou Mestre Moa do Katendê, nos deixou importantes produções nas áreas de música, dança, capoeira, artesanato, confecção de instrumentos musicais de origem africana e organização comunitária.

Desde a década de 1970, Moa exercia um importante papel de educador, mobilizador comunitário e agitador cultural na comunidade do Dique Pequeno, no bairro do Engenho Velho de Brotas, em Salvador. Engajado no processo de afirmação identitária da juventude negra, mobilizou seus talentos para concretizar um projeto político-cultural de reafricanização do carnaval baiano. Daí seu empenho em criar um afoxé e promover a participação de artistas e moradores da comunidade do Dique Pequeno. Nesse contexto, foi vencedor do festival de compositores do Ilê Aiyê, em 1977, fundou o Afoxé Badauê um ano depois e o Afoxé Amigos do Katendê, em 1995.

O Badauê adquiriu grande importância no cenário cultural da cidade no final dos anos 1970 e no começo da década de 80. O bloco foi uma das maiores influências rítmicas da MPB da época – artistas como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Moraes Moreira, Djavan e muitos outros beberam da fonte ijexá que jorrava do Engenho Velho de Brotas. Congregando a juventude negra de distintos bairros e chegando a ter sete mil membros em um único carnaval, o Badauê alcançou o objetivo maior de um afoxé: levar às ruas a riqueza cultural negra na expressão de corpos, sons e imagens. A projeção nacional se firmou quando Caetano Veloso homenageou o bloco com a canção “Badauê”, no disco “Cinema Transcendental” (1979).

Como mestre de capoeira e dança afro, Moa viajou pelo país ao longo de quatro décadas, ajudando a criar grupos de cultura afro-brasileira. Desse modo, ele acabou por obter maior reconhecimento enquanto mestre de capoeira e professor de dança afro do que como compositor ou músico. Sua música, porém, é agora reapresentada ao público em letras e melodias, para que seu legado seja perpetuado e ganhe o devido reconhecimento.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Fechar