O Festival Paisagem Sonora, promovido pela UFRB, disponibilizou online e gratuitamente os 14 primeiros volumes dos Cadernos de Educação do Ilê Aiyê (de um total de 21). Acessíveis em PDF no site do festival, os materiais integram o projeto Organizações da Resistência – Música e Educação, que visa fortalecer ações formativas e valorizar as expressões culturais afro-brasileiras.
A produção destes conteúdos acontece em parceria com instituições importantes para a cultura afro-brasileira: a Associação Cultural Ilê Aiyê, o Instituto da Mulher Negra – Mãe Hilda Jitolu, o Grupo Cultural Olodum e a organização social Casa da Ponte, todos localizados em Salvador (BA). O projeto realizará também o Encontro Griô de Saberes dos Mestres e Mestras, uma série de aulas online sobre os saberes ancestrais de expoentes da preservação e transmissão oral de conhecimento. E, claro, a edição 2025 do Festival Paisagem Sonora, no final deste ano.
OS CADERNOS DO ILÊ
Em 1974, moradores do bairro da Liberdade, em Salvador, fundam o Ilê Aiyê, primeiro bloco-afro do Brasil. Ele se tornaria a Associação Cultural Ilê Aiyê porque o que motiva seu surgimento é também a luta contra o racismo e pela valorização da cultura afro-brasileira. O bloco nasce a partir do Terreiro de Candomblé Ilê Axé Jitolu, que tinha como Ialorixá, Mãe Hilda Jitolu. É ela quem funda a escola Mãe Hilda em 1988, com turmas de alfabetização infantil e reforço escolar. O projeto ganha corpo ao longo dos anos e em 1997 a Associação lança o Projeto de Extensão Pedagógica do Ilê Aiyê, tendo como base os Cadernos de Educação.
“A reedição dos Cadernos é fundamental para o momento que vivemos, de ampliação da Lei Federal n. 9.394”, pondera Valéria Lima, Diretora-executiva do Instituto Mãe Hilda Jitolu. Essa lei, de janeiro de 2003, altera uma anterior, de 1996, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira. “Os cadernos são um material que serve como conteúdo escolar de forma muito tranquila, porque eles abordam vários temas ligados a questão racial no país” afirma Valéria. Acrescentando que, “a gente fala de Brasil, porque o Ilê já homenageou vários estados do brasil dentro dos seus temas do carnaval, mas o Ilê também canta a história de vários países africanos, então nosso temas têm muita inserção”, conclui.
Esta reedição dos 21 Cadernos Pedagógicos ((ver lista dos volumes já publicados em formato digital, no final deste texto) está sendo realizada pelo Selo Anjo Negro, responsável pelo novo projeto gráfico (desenvolvido pelo estudio baiano Casa GridA), com dezenas ilustrações do artista visual e designer J. Cunha. A ficha técnica original de cada caderno foi preservada, então é possível encontrar entre seus coordenadores e conteudistas, pesquisadores e autores fundamentais para a cultura afro-brasileira, como o historiador e escritor Jaime Sobre a pesquisadora e atual Ouvidora-Geral do Estado da Bahia, Arany Santana e a educadora Valdina de Oliveira Pinto (Makota Valdina).
“A gente está muito feliz com a reedição dos Cadernos em formato digital porque essa ferramenta, que vem sendo utilizada em seu formato impresso desde os anos 90, agora tem seu alcance ampliado para professores, crianças e adolescentes”, comenta Sandro Teles, produtor artístico do Ilê Aiyê. E acrescenta que a ferramenta pedagógica, “pode ser utilizada em instituições de todo o país e não apenas nas escolas do Ilê, potencializando a força desse nosso trabalho de valorização da cultura, da historiografia negra, da história da África e diáspora africana. Da história das lutas de resistência que aconteceram em nosso país”, considera Teles.
Os temas dos Cadernos, sempre estiveram ligados aos carnavais do Bloco Ilê Aiyê, articulando arte política. Assim, a coleção representa de forma significativa a importância de um projeto de educação voltado para a valorização e o reconhecimento das culturas afro-brasileiras. Ela também reforça a afirmação das dimensões afro-brasileiras, promovendo uma maior compreensão da diversidade cultural do nosso país.
Na Fundação Ilê Aiyê, o projeto do Festival prevê ainda aulas para 08 turmas do ensino fundamental I, alcançando cerca de 200 alunos. No site do Festival, além destes cinco primeiros Cadernos, também é possível baixar um poster para impressão, com todas as capas dos 21 Cadernos.
SERVIÇO:
Cadernos de Educação do Ilê Aiyê
Disponíveis para acesso gratuito em festivalpaisagemsonora.org/cadernos-ile
Listas dos volumes já publicados
- Organizações de Resistência Negra
- A civilização Bantu
- Zumbi 300 anos
- A Força das Raízes
- Pérolas Negras do Saber
- Guiné Conacry
- Revolta dos Búzios – 200 anos
- Terra de Quilombo
- África, Ventre Fértil do Mundo
- Malês a Revolução
- A rota dos Tambores no Maranhão
- Mãe Hilda Jitolu
- Moçambique Vutlari
- O Negro e o Poder