Segundo longa de uma trilogia dos diretores Ícaro (Francisco) Martins e José Antonio Garcia, Onda Nova exibido, em cópia restaurada e remasterizada, no Festival de Locarno e na Mostra de Cinema de SP, será relançado nos cinemas em parceria inédita entre a Tanto e a Vitrine Filmes no primeiro trimestre de 2025.
Onda Nova teve sua primeira exibição no Brasil na 7ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 1983. Logo em seguida, foi proibido pela Censura do regime militar e só pôde ser lançado quase um ano depois, o que prejudicou muito sua carreira comercial.
Protagonizado por Carla Camurati e Cristina Mutarelli, o filme, que tem roteiro assinado pelos diretores, traz a história das jogadoras do time Gayvotas Futebol Clube, no ano em que o futebol feminino foi regulamentado no Brasil.
Em plena ditadura militar, esse time de jovens paulistanas desafia a moral vigente sobre gênero e sexualidade, ao mesmo tempo em que as jogadoras lidam com problemas pessoais. No campo, contam com o apoio de jogadores renomados, como Casagrande e Wladimir, fundadores da célebre (famosa?) “Democracia Corintiana”, e Pita. Também participam do filme artistas como Caetano Veloso, Regina Casé e o locutor Osmar Santos.
Confira o trailer abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=LpRq9NLrSP0
Apesar de não ser uma “pornochanchada” tradicional, Onda Nova foi produzido de forma semelhante, na Boca do Lixo. Seu lançamento comercial tardio, quando esse ciclo já havia acabado, de certa forma o coloca como o último do gênero. Entretanto, como no longa de estreia dos diretores – “O Olho Mágico do Amor” – e nas outras obras, o filme rechaça o moralismo sexista dessas produções comerciais. (A trilogia dos diretores é encerrada com “A Estrela Nua”, de 1985).
“É um filme onde o desejo assume o protagonismo, define e conduz as personagens e a narrativa. Mesmo não tratando diretamente de política, ao colocar o desejo como afirmação de identidade e de vida, Onda Nova é a própria negação da ditadura vigente na época. Por isso a censura não foi apenas a uma cena ou outra, mas ao filme inteiro. Foi considerado ‘amoral’ e interditado integralmente”, conta Martins.
A seleção do filme para a seção “Histoire(s) du Cinéma” do 77º Festival de Cinema de Locarno, deu a Júlia Duarte – sobrinha de José Antonio Garcia, que infelizmente faleceu em 2005 – a oportunidade de começar seu projeto de restauro das obras do tio. Também o trailer e cartaz, que tinham desaparecido foram refeitos. Aliás, o novo poster foi feito por Helena Garcia, artista gráfica e uma das filhas de José Antonio. Graças ao trabalho conjunto da família com o outro diretor, Ícaro (Francisco) Martins, Onda Nova agora poderá ser assistido novamente em todas as telas com a merecida qualidade.
“Em 1984, numa entrevista a Leon Cakoff, fundador e então diretor da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Zé Antonio declarou: ‘Nosso filme é de vanguarda, só será entendido daqui a dez anos’…Talvez tenha demorado um pouco mais, mas ele tinha razão”, conclui Martins.