Artesanato baiano firma parceria com Casa Cor Bahia

Em um movimento para valorizar a produção local, o programa Artesanato da Bahia, da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre) em parceria com a Associação Fábrica Cultural, firmou uma parceria com a Casa Cor Bahia. O acordo, oficializado na última terça-feira (10) em um evento na Casa do Artesanato da Bahia, na Barra, buscou aproximar arquitetos da edição de 2025 do trabalho de mestres artesãos do estado.

Com a iniciativa, os profissionais da Casa Cor poderão adquirir peças diretamente dos criadores, diferentemente de edições anteriores, quando as peças eram de lojas sem a autoria dos artesãos. Além disso, a edição 2025 da Casa Cor, que ocorre entre 8 de julho e 7 de setembro, contará com uma galeria e loja exclusivas do Artesanato da Bahia, expondo e comercializando itens de diversas regiões do estado.

Weslen Moreira, diretor da Coordenação de Fomento ao Artesanato (CFA) da Setre, defende que a presença dos artesãos num evento do porte da Casa Cor marca um avanço na valorização do artesanato como obra de arte, com foco na autoria das obras, e no estreitamento das relações comerciais. “Quando você envolve artesãos e artesãs — dos mais simples aos mais sofisticados — e os insere num ambiente refinado como o da Casa Cor, você está criando oportunidades reais de expansão e reconhecimento”, reforça.

Durante o encontro, a diretora da Casa Cor Bahia, Magali Santana, destacou que dar voz e visibilidade aos artistas populares sempre foi um objetivo do evento, uma vez que suas obras não apenas cabem nos espaços de luxo, como os enriquecem esteticamente e culturalmente. Para ela, a provocação feita aos arquitetos e designers resultou numa mudança de paradigma dentro do evento, abrindo caminhos para que esses artesãos e artesãs sejam legitimados e celebrados.

“Os artistas populares agregam valor aos ambientes da arquitetura de luxo. O problema é que, muitas vezes, esses artistas eram inseridos de forma muito sutil, de alguma forma velada. Tinha peça sem autoria, sem crédito. Agora eu quero o artista aqui, quero o nome dele aqui. Porque a autoria não é da loja. Vamos trazer esses mestres para o centro da cena, com nome, rosto e história. E hoje, com essa parceria, a gente consagra isso de verdade”, reforçou..

Resistência cultural – O secretário Augusto Vasconcelos destacou que o artesanato baiano é parte essencial da economia criativa e esse reconhecimento tem sido uma das prioridades da Setre. Para ele, a participação dos artesãos na Casa Cor Bahia reforça a valorização da cultura local e representa uma estratégia concreta de geração de renda e inclusão produtiva. Ele aproveitou para enfatizar que o artesanato vai além do objeto: é expressão de memória, identidade e resistência cultural.

 “Em tempos de inteligência artificial e algoritmos, estamos aqui afirmando que a criatividade humana não pode ser superada. O artesanato da Bahia é mais do que uma série de produtos; são histórias de vida, saberes ancestrais e trajetórias de superação que encantam e fortalecem nossa economia”, concluiu após assinatura da parceria.

 A parceria entre o programa Artesanato da Bahia e a Casa Cor Bahia também está sendo recebida com entusiasmo pelos arquitetos que assinam ambientes na mostra. A originalidade e riqueza simbólica das peças artesanais estão na mira desses profissionais, que reconhecem a aproximação com os artesãos uma oportunidade de crescimento profissional e expansão de repertório criativo, tendo como pano de fundo o fortalecimento de conceitos como identidade cultural e sustentabilidade.

Efeito na autoestima – Para a especialista na produção de cestaria e utilitários feitos com fibras naturais, como piaçava e palha da costa, Claudinea dos Santos, conhecida como Nea, a parceria com arquitetos é uma oportunidade concreta de ampliar a visibilidade do seu trabalho e fortalecer a renda da sua comunidade. Oriunda da comunidade quilombola Pitanga dos Palmares, em Simões Filho (BA), ela destaca que projetos desenvolvidos pelos arquitetos ainda desafiam os artesãos a criarem novas respostas dentro da tradição artesanal.

“Eu vejo como mais uma oportunidade de ter uma renda direta e indireta e mostrar o nosso trabalho em outros lugares. Eu sei que, através dos arquitetos, a gente pode criar novas peças e ter uma outra forma de negociar e formalizar nossa renda. O que eles desenharem, a gente produz. A piaçava nunca morre e eu abraço qualquer oportunidade que venha para minha comunidade crescer e para minha associação se desenvolver e chegar longe”

Residente em Santo Amaro, no Recôncavo Baiano, o artesão Matheus Freitas traz à tona um saber ancestral ao criar esculturas de metal que dialogam com a herança africana. Iniciado na arte ainda na adolescência, inspirado pelo pai, ele trabalha com metais como ferro, aço inox, cobre e latão, moldando as peças a frio e a quente. Para ele, a conexão com arquitetos representa mais do que uma vitrine, é um caminho para reconhecimento profissional, valorização da técnica e fortalecimento da autoestima.

“Uma iniciativa como essa faz até a gente tomar propriedade do que faz, o que repercute diretamente na nossa autoestima, na precificação e na qualidade técnica do nosso trabalho. Eu acho que a precificação é uma das coisas mais importantes para a gente, porque esses materiais carregam simbolismo, memória, técnica e não é algo fácil de mensurar. Eu costumo tocar muito nesse ponto da autoestima, porque é necessário que os artesãos saibam da importância do que fazem e dos espaços que podem ocupar”, realça Matheus.

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