Cultura

Japan House São Paulo apresenta exposição sobre revitalização regional por meio da arte e cultura

Uma comunidade com aproximadamente 30 casas, sendo que a maior parte dos moradores são da terceira idade. Uma paisagem industrial que havia sido abandonada, e que agora é tomada por arte e arquitetura integradas ao ecossistema local. Essa é Inujima, uma pequena ilha localizada no Mar Interior de Seto, no Japão, com apenas 0,54 km², e que ganha exposição inédita na Japan House São Paulo a partir do dia 30 de novembro, até a 6 de fevereiro de 2022, com entrada gratuita.

A mostra “Simbiose: a ilha que resiste”, com curadoria de Yuko Hasegawa, diretora do 21st Century Museum of Contemporary Art de Kanazawa, Japão, e expografia da arquiteta Kazuyo Sejima, sócia fundadora do escritório SANAA e vencedora do prêmio Pritzker em 2010, reúne obras de arte, fotos, vídeos e depoimentos de moradores de Inujima. A exposição conta também com uma grande representação arquitetônica do espaço geográfico da ilha, famosa por suas pedreiras, responsáveis por atrair o interesse da indústria ao local até meados do século XX. Depois da passagem pelo Brasil, a mostra segue para Londres e Los Angeles dentro do programa de itinerância global da Japan House.

Hoje, em meio às pequenas casas tradicionais japonesas que restaram após uma crise na atividade econômica e a evasão de habitantes, é possível encontrar obras de arte e arquitetura no local, quase como se a ilha fosse um museu a céu aberto. Este é o resultado do Inujima “Art House Project”, que desde 2010, promove a revitalização cultural de Inujima com intervenções gradativas e de pequena escala, sempre em harmonia com a natureza e com a comunidade local. Junto a Fundação Fukutake, o projeto destaca o conceito togenkyo, utilizado para denominar algo comum ao cotidiano, porém único e cheio de riqueza. Inujima é um local que possibilita trocas de vivência especiais com os habitantes que ali vivem.

Antes de Inujima “Art House Project”, um outro projeto já destacava o potencial da ilha com uma primeira intervenção: o Inujima Seirensho Art Museum, projetado pelo arquiteto Hiroshi Sambuichi, que esteve no Brasil em 2019, a convite da Japan House São Paulo, para uma série de palestras, inclusive sobre as especificidades do projeto do museu.

“Os atuais habitantes passaram por diferentes momentos da ilha: de um passado industrial ativo até uma realidade de escassa atividade e pouquíssimos habitantes com faixa etária avançada, resultante em uma mudança radical de hábitos e interesses. É um projeto que ultrapassa as lógicas do pensamento arquitetônico de práticas puramente construtivas, que exercita uma arquitetura mais experimental. Por meio da associação ‘arquitetura e arte’ propõe uma nova ocupação e uma nova maneira de se relacionar com o entorno. Sejima e Hasegawa criaram uma série de atividades para envolver os habitantes da ilha nesse lindo trabalho que estão realizando”, explica a diretora cultural da Japan House São Paulo, Natasha Barzaghi Geenen.

Como o próprio nome da exposição aponta, a simbiose se dá pela convivência harmônica e mutuamente benéfica entre diferentes organismos – o passado e o contemporâneo, o meio ambiente e a ação humana, moradores e visitantes dessa ilha tão ímpar. “Aos poucos, o projeto está mudando o panorama local. Trata-se de um processo de recriação e valorização da paisagem da ilha ao mesmo tempo que preserva e valoriza a sua história”, comenta a arquiteta Kazuyo Sejima, que também esteve na Japan House São Paulo em 2019, ocasião em que realizou algumas palestras. Dentre os destaques estão a Casa F, que traz obra de Kohei Nawa, artista de relevância internacional que apresentou uma exposição individual na Japan House São Paulo em 2017, e o Inujima Life Garden, um deslumbrante jardim ecológico localizado a uma pequena distância do vilarejo, na região oeste da ilha, onde foi recuperada uma estufa de vidro e construído um café ao ar livre. O projeto de revitalização local ainda oferece vários workshops e aulas para os habitantes locais aprenderem sobre a convivência com as plantas. Na residência artística, é oferecido um ambiente onde os artistas podem habitar e vivenciar o cotidiano da ilha enquanto desenvolvem seus projetos.

“A ilha toda está imbuída de um passado marcado, que ao invés de ser apagado, coexiste com uma renovação contemporânea importante e harmônica, que valoriza e inclui a população existente. É um interessantíssimo modelo de revitalização regional em desenvolvimento no Japão que pode servir de inspiração. Aqui no Brasil, podemos pensar em alguns paralelos muito bem-sucedidos como o Instituto Inhotim, em Brumadinho (MG) e a Usina de Arte, em Água Preta (PE)”, acrescenta Natasha. Dentro do programa JHSP Acessível, a exposição “Simbiose: a ilha que resiste” conta com recursos de audiodescrição, libras e elementos táteis. Para mais informações sobre Inujima “Art House Project”, acesse https://benesse-artsite.jp/en/art/inujima-arthouse.html (em inglês).

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