Coluna

Centenário do intelectual e empreendedor João Fernandes da Cunha

Pesa contra os intelectuais a máxima de que não conseguem atingir nas atividades do dia a dia, nas questões práticas, o sucesso reconhecido nas letras, na cultura, nas artes, na criatividade. Essa máxima, porém, nunca se aplicou a João Fernandes da Cunha, nascido em 21 de maio de 1921, na Fazenda Tapera, no Vale do Rio Salitre, distrito de Juazeiro (BA). Aos 5 anos mudou-se  com seus pais para a sede do município. De inteligência brilhante e memória privilegiada, logo começou a se destacar como criança predestinada a grandes feitos e realizações. Na escola fundamental aprendia português, matemática, história e geografia com tanta facilidade, que empolgava seu mestre Aristóteles Piva de Carvalho e demais professores.

Aos 16 anos já demonstrava amadurecimento, capacidade de liderança   e competência na arte de ensinar. Tornou-se professor de seus colegas e, posteriormente, passou a diretor da própria escola onde estudava, o Colégio 11 de Junho de propriedade do Monsenhor Antonio Costa Rego, em Juazeiro.

Foi orador oficial da Sociedade Apolo Juazeirense, e escrevia para os jornais “O Farol” e “O Arauto” suas primeiras poesias e crônicas, vindo a ocupar o cargo de chefe de redação.

Isso tudo antes de completar 18 anos. Quando fez 19, percebeu a   necessidade   de   progredir   social, cultural   e economicamente. Mudou-se para Salvador, em busca de maiores oportunidades de trabalho. Quando se sentiu em condições econômicas de se casar e trazer para Salvador seus pais e irmãos, o fez sem pestanejar.

Em   1940   fez   o   concurso   para   o   Banco   do   Brasil, foi aprovado e passou a   integrar   o   quadro   de funcionários de carreira da instituição, até a sua aposentadoria.

Com sede de conhecimento, conseguiu se formar em três graduações de nível superior: Ciências Contábeis, em 1945, pela Faculdade de Ciências Econômicas da Bahia, sendo orador da turma; em 1952 integrou a turma pioneira de formandos em Jornalismo e Comunicação da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Bahia, foi o orador da turma, que teve como paraninfo, o professor Clemente Mariani. No mesmo ano, se graduou em Ciências Econômicas pela Faculdade de Ciências Econômicas da UFBA, sendo aluno laureado e, mais uma vez, orador da turma.

Durante trinta anos trabalhou no Banco do Brasil, alcançando os postos  mais altos de comando.   Devido   a   sua   competência   e credibilidade, foi   convidado   a   organizar, estruturar e implantar dois outros bancos.  Primeiro, o Banco do Nordeste do Brasil, onde atuou de 1954 a 1958, sendo o gerente geral para os estados da Bahia, Minas Gerais e Sergipe.

Em   seguida, criou   o   Banco   do   Fomento   do   Estado   da   Bahia, que   depois   foi transformado em Banco do Estado da Bahia (Baneb). Permaneceu na instituição no período de 1954 a 1964, como organizador e diretor.

Incansável na teoria e prática, dividia o trabalho nas instituições bancárias com o ensino. Ministrava cursos para concursos, participou de diversos seminários, conferências, congressos, mesas-redondas.

Em maio de 1955, passou a integrar o quadro de professores da UFBA. Começou como professor assistente  na  Faculdade   de   Ciências   Econômicas, a   convite   da   congregação. Em seguida, tornou-se professor adjunto. Mais adiante, exerceu a chefia dos seus departamentos e a coordenação, alternativamente, dos cursos de   Economia e de Ciências Contábeis.

Participou ativamente da implantação da Reforma Universitária nas décadas de 1970 e 1980, quando elaborou os novos currículos dos cursos para as Faculdades de Economia e Ciências Contábeis da UFBA, adaptando-os às novas necessidades.

Estudioso permanente das Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e de toda a variada  legislação   universitária,  recebeu   como   reconhecimento   vários títulos importantes e   realizou   conferências, discursos e escreveu artigos em quantidade numerosa em órgãos e entidades, de que participou ou que dirigiu, e publicados em revistas e jornais. Também foi autor de alguns livros.

O intelectual e empreendedor também era um homem de fé. Dedicou-se às Irmandades da Santa Casa de Misericórdia da Bahia; Irmandade do Santíssimo Sacramento Nossa Senhora da Conceição da Praia; e foi devoto do Senhor Bom Jesus do Bonfim.

Mas sempre quis fazer mais. Sua criatividade não tinha limite. Em 1992 criou a Fundação João Fernandes da Cunha (atualmente com sede na Praça do Campo Grande, número 8, em Salvador). “Esta é uma casa onde se cultua um raro e profundo sentido de fraternidade”, dizia.

A biblioteca da Fundação JFC tem o perfil do seu fundador. Cultuador dos livros e do ensino, João Fernandes da Cunha decidiu investir na cultura como forma de ajudar a promover o ser humano a alcançar os seus objetivos, como ele próprio definiu: “Minha vida, desde a juventude, tem decorrido entre livros, professores, estudantes e cristãos. É natural, portanto, que a minha consciência esteja sempre voltada para Deus e para a promoção cultural dos meus semelhantes”.

A Fundação João Fernandes da Cunha, com sua ampla biblioteca (cerca de 18 mil livros cadastrados) e internet disponível para estudantes é uma incentivadora a todos que pretendem crescer na vida por meio dos estudos. No momento, devido à pandemia da Covid-19, os empréstimos dos livros são feitos de forma remota.

 

Fundação JFC 

Site: http://www.fundacaojoaofdacunha.com.br/ 

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Fechar